Sou uma das muitas filhas de meus pais. Do sangue e do ventre, somos 3, mas o coração foi fazendo nascer mais um, mais outro, mais outro... A vida veio trazendo irmãos de coração, e meus pais acolhendo os filhos com seus braços e corações elásticos. Foi gostoso de ver...
Ao longo de tantas chegadas – e ficadas – fomos esticando nossas capacidades também. Capacidade de esperar o banheiro desocupar para um banho; capacidade de ouvir a TV quando o barulho e as conversas na sala eram muitas; capacidade de ver brotarem pratos e talheres na mesa pro almoço cada vez mais numeroso; capacidade de dividir a atenção, de multiplicar as brincadeiras, de somar amor e aquele aconchego gostoso que sentimos quando sabemos que temos com quem contar na vida! Pra mim, e na minha visão, sempre foi assim...
Casei muito nova (como contei no post passado!). Aos 21 anos já era uma “jovem senhora casada” e estava a frente da realidade de construir a minha própria família. Foi tudo muito natural e as coisas simplesmente aconteceram... Logo que casamos, moramos numa quitinete que meus pais construíram pra nós no terraço de sua casa. Ficamos lá por felizes 4 anos e 10 meses, até vermos nossa primeira casa própria prontinha pra nos receber. Lá fomos nós! Dois meses depois nascia nossa primeira filha e vivemos momentos de muita alegria naquele endereço... até mesmo a chegada de nossa segunda boneca!
Alguns sonhos a mais nos fizeram ter coragem de vender aquele canto especial e tentar colocar nossa caixa de correio em outra rua, outro bairro, numa área maior, mas como a grana era curta pra “construir x morar”, tomamos uma decisão e fomos, outra vez, pedir “asilo” aos meus pais. Agora, numa casa maior e com menos filhos por perto (todos já casaram ou foram construir suas histórias), havia espaço de sobra pra acolher a mim, meu amor e minhas “amoras”!
Voltar pra casa dos pais nunca é fácil... você cresce e cria asas demais! Cada asa quer bater de um jeito, numa hora, numa velocidade. Os pais já estão em outro ritmo, e as diferenças se acentuam. Imagine agora, o que é voltar pra lá com a turma completa (incluindo a secretária)??? Nada fácil! Nem pra nós, nem pra eles...
No meio do processo, e vendo as filhas sendo atendidas prontamente pelos avós a cada pirraça ou desejo de criança, a gente teve vontade de surtar, dar um castigo bem dado em cada uma delas (e nos avós também!!). Relembrar os defeitos do dia-a-dia dos pais também atordoa, e dentro do processo, vivendo a dinâmica da casa que não é mais sua - não aquela que você fez a rotina do seu jeitinho - a gente quase (mas quase mesmo!) pira o cabeção!
Pois bem... é chegada a hora de abrir os portões do nosso novo canto, e deixar a casa dos pais outra vez causa sentimento ambíguo: realização e felicidade pela conquista sonhada e lutada; aperto no peito por deixar os pais no endereço deles e perder a mordomia de ter o colo deles sempre tão perto.
No fim das contas, e depois desses 17 meses juntos sob o mesmo teto outra vez, enxergo com clareza os defeitos que nem eram novidade pra mim, mas também aumento aquele sentimento gostoso de poder ter redescoberto as qualidades, a alegria da presença, de ter visto os braços abertos e à disposição quando precisamos, os sorrisos e o fato de tê-los visto rejuvenescer perto das netas por tanto tempo!
Pai e mãe, DESCULPEM O TRANSTORNO, A BAGUNÇA, O BARULHO E A DESORDEM por tantas vezes! OBRIGADA por terem nos acolhido e nos ajudado a realizar mais esse sonho. Nossa casa tem parte especial da doação e do amor de vocês! Amo muito, muito, muito! Vamos sentir saudade! Todos nós!