terça-feira, 5 de junho de 2012

SOMOS MUITOS E, AINDA ASSIM, SOMOS UM!

          Sou uma das muitas filhas de meus pais. Do sangue e do ventre, somos 3, mas o coração foi fazendo nascer mais um, mais outro, mais outro... A vida veio trazendo irmãos de coração, e meus pais acolhendo os filhos com seus braços e corações elásticos. Foi gostoso de ver...
         Ao longo de tantas chegadas – e ficadas – fomos esticando nossas capacidades também. Capacidade de esperar o banheiro desocupar para um banho; capacidade de ouvir a TV quando o barulho e as conversas na sala eram muitas; capacidade de ver brotarem pratos e talheres na mesa pro almoço cada vez mais numeroso; capacidade de dividir a atenção, de multiplicar as brincadeiras, de somar amor e aquele aconchego gostoso que sentimos quando sabemos que temos com quem contar na vida! Pra mim, e na minha visão, sempre foi assim...
         Adoro meus momentos de silêncio, independência, solidão, mas não sou uma pessoa solitária e silenciosa. Sou super adepta dos almoços tumultuados de domingo, das festas cheias de familiares, de sobrinhos, de irmãos! Por isso nunca tive grandes dificuldades em ver minha família tomar proporções elásticas!
         Casei muito nova (como contei no post passado!). Aos 21 anos já era uma “jovem senhora casada” e estava a frente da realidade de construir a minha própria família. Foi tudo muito natural e as coisas simplesmente aconteceram... Logo que casamos, moramos numa quitinete que meus pais construíram pra nós no terraço de sua casa. Ficamos lá por felizes 4 anos e 10 meses, até vermos nossa primeira casa própria prontinha pra nos receber. Lá fomos nós! Dois meses depois nascia nossa primeira filha e vivemos momentos de muita alegria naquele endereço... até mesmo a chegada de nossa segunda boneca!
         Alguns sonhos a mais nos fizeram ter coragem de vender aquele canto especial e tentar colocar nossa caixa de correio em outra rua, outro bairro, numa área maior, mas como a grana era curta pra “construir x morar”, tomamos uma decisão e fomos, outra vez, pedir “asilo” aos meus pais. Agora, numa casa maior e com menos filhos por perto (todos já casaram ou foram construir suas histórias), havia espaço de sobra pra acolher a mim, meu amor e minhas “amoras”!
         Voltar pra casa dos pais nunca é fácil... você cresce e cria asas demais! Cada asa quer bater de um jeito, numa hora, numa velocidade. Os pais já estão em outro ritmo, e as diferenças se acentuam. Imagine agora, o que é voltar pra lá com a turma completa (incluindo a secretária)??? Nada fácil! Nem pra nós, nem pra eles...
         No meio do processo, e vendo as filhas sendo atendidas prontamente pelos avós a cada pirraça ou desejo de criança, a gente teve vontade de surtar, dar um castigo bem dado em cada uma delas (e nos avós também!!). Relembrar os defeitos do dia-a-dia dos pais também atordoa, e dentro do processo, vivendo a dinâmica da casa que não é mais sua - não aquela que você fez a rotina do seu jeitinho - a gente quase (mas quase mesmo!) pira o cabeção!
         Pois bem... é chegada a hora de abrir os portões do nosso novo canto, e deixar a casa dos pais outra vez causa sentimento ambíguo: realização e felicidade pela conquista sonhada e lutada; aperto no peito por deixar os pais no endereço deles e perder a mordomia de ter o colo deles sempre tão perto.
         No fim das contas, e depois desses 17 meses juntos sob o mesmo teto outra vez, enxergo com clareza os defeitos que nem eram novidade pra mim, mas também aumento aquele sentimento gostoso de poder ter redescoberto as qualidades, a alegria da presença, de ter visto os braços abertos e à disposição quando precisamos, os sorrisos e o fato de tê-los visto rejuvenescer perto das netas por tanto tempo!
         1 ano e 5 meses depois, comemoro mais uma conquista agradecida à eles, aos meus pais queridos; que apesar dos defeitos e com TODAS AS QUALIDADES QUE TÊM, me fazem ter certeza de que nasci pra ser mesmo a filha deles. Se sou assim, exatamente assim como sou - com os meus defeitos (muitos) e as minhas qualidades (muitas) - consigo ainda ser independente, corajosa, forte, guerreira... e sei agradecer! Graças ao que eles me ensinaram ao longo da vida!
         Pai e mãe, DESCULPEM O TRANSTORNO, A BAGUNÇA, O BARULHO E A DESORDEM por tantas vezes! OBRIGADA por terem nos acolhido e nos ajudado a realizar mais esse sonho. Nossa casa tem parte especial da doação e do amor de vocês! Amo muito, muito, muito! Vamos sentir saudade! Todos nós!

sábado, 2 de junho de 2012

ELE É ASSIM...

Daqui a alguns meses comemoraremos nossos 12 anos de casados. É, passou rápido demais!
Há pouco mais de uma década eu era uma recém chegada à fase adulta, e dos meus recentes 21 anos completados me via diante de casa, marido e novas responsabilidades. Confesso que não fiquei com medo e que, na verdade, eu estava eufórica com a possibilidade de vestir meu longo brilhoso e começar a enfeitar – do meu jeitinho – o meu castelo encantado.
Só depois de algum tempo e de muito chorar, sofrer, espernear e fazer pirraça é que fui compreendendo – de verdade! – que ali não tinha nenhum príncipe (e nenhuma princesa!). Foram brigas grandiosas, silêncios prolongados, culpas e faltas jogadas na cara... Foram muitas festas, farras, alegrias, porres e conquistas também, mas vamos combinar que a parte boa mais enfeita do que faz crescer, né? Por isso lembramos da parte mais “desfocada” da história até mesmo com orgulho, porque foi essa que nos fez crescer e veio nos moldando ao longo do tempo.
Hoje, quase 12 anos depois daquele SIM, com 2 filhas lindas, desejadíssimas e muito amadas, carreiras sólidas e felizes, nossa casa tão sonhada construída, muito trabalho, luta e dedicação ao que fazemos e poucas folgas no nosso currículo, estamos na capital do nosso estado para o curso de especialização que o maridão está fazendo pra crescer, ainda mais, profissionalmente. Aqui, na sala de aula do curso vejo tudo com olhar atento. Ele, acompanhado de sua pequena turma numa mesa redonda com o professor ali na frente, e eu, sozinha aqui atrás, sentada numa cadeira como a deles, dentro da aula mas por fora do que eles estão discutindo logo ali.
O professor fala e explica, um aluno rebate, o outro pergunta, o outro comenta... e ele – o meu marido - ali, com seu silêncio habitual fazendo parte de tudo sem sentir necessidade de se fazer notar.
Eu que sempre fui tão dada aos risos altos, às conversas descontraídas com quem acabei de conhecer e às participações efetivas de qualquer coisa que faça parte, tive extrema dificuldade para entender o jeito quieto e reservado desse homem que, de mil outras maneiras, tenta sempre me fazer feliz!
Esse silêncio e essa calmaria já foram pedra em nossa rebentação... estouravam minha estima, meu entendimento, minha necessidade de estar sempre cercada de contato e som. Como eu disse, levou um certo tempo para eu compreender – de verdade – que isso faz parte dele, que esse É ELE! Só depois de muito sofrimento, carência, incertezas e pancadas pra crescer, é que entendi que ELE É ASSIM, e que essa calmaria me equilibra, me traz pro colo, pro aconchego, pro amor...
Meu “pequeno-grande homem”, meu gigantesco companheiro, meu grande e verdadeiro amor. Com defeitos, com qualidades, com acertos e erros; que me faz ter uma vida de verdade, amar de verdade e ver um sonho virar realidade. Sem castelo, sem cavalo branco, mas com muito encantamento, magia e FELICIDADE!