Pela 2ª vez vivi uma experiência deliciosa: participei do Projeto Pais em Cena, com a peça A BELA E A FERA, onde vivi a personagem "LEITE KENT" (muito bem mostrada aqui na revista, pela Chris Lehrback, em sua coluna). Foram 4 dias de apresentações com casa lotada, e ali no palco pude fazer um pouco daquilo que também é minha grande paixão: representar.
Numa dessas tardes gostosas de café aqui na redação falávamos sobre meu texto dessa edição, quando meu amado Zu Campos perguntou: “Por que você não fala sobre o teatro e sobre encenar?” Foi a palavra chave para que um deslizamento de idéias soterrassem a minha paz. “Escreva, Larissa! Escreva”, gritava minha cabeça, como ela faz todas as vezes que uma coisa nova nasce aqui dentro. Então, estava decidido: eu falaria sobre minha paixão – e minha aversão – sobre encenações. E eu já vou explicar como posso amar e odiar a mesma coisa, e quase ao mesmo tempo.
Sempre me senti muito ligada à música, textos, museus e, em especial, a teatros. Teatro cheio, vazio, o palco, a cortina e o cheiro... ah, o que é o cheiro de um teatro, hein?! Eu simplesmente AMO!
Lembro que em uma visita a Juiz de Fora minha irmã me levou para conhecer o maior e mais imponente teatro da cidade, que em horário comercial, estava vazio e grandiosamente silencioso (até então nunca pude dimensionar o silêncio!). Entrei e não consegui falar nem uma palavra, apenas fixei os olhos no palco e fui andando... minha cabeça estava lotada e ao mesmo tempo deserta. Minha vontade era, com licença da sinceridade, ajoelhar e fazer uma oração. Que lugar! Que energia! Lembro da emoção que tomou conta de mim e da frase que repetia sem parar na minha cabeça: “É isso o que quero fazer! É isso o que eu quero fazer da vida!”.
Difícil ter coragem de tentar algo tão incerto e ousado com trabalho e família estruturados aqui, mas achei minha maneira de – pelo menos uma vez por ano – fazer o que sempre sonhei. Mas também descobri outra coisa importante: amo teatro apenas no teatro. Personagens devem tomar conta de nós apenas durante o espetáculo. Depois da macia cortina fechada e do aplauso final, gosto de gente que é de verdade, sem máscaras e sem disfarce.
Tenho reparado que muitas pessoas adorariam, em público, dar uma gargalhada alta, um abraço apertado ou um beijo estalado naquela pessoa querida que não via há tempos, mas que se contentam com o sorrisinho contido, com o aperto de mão, com os dois beijinhos na bochecha e com o cordial “Oh, quanto tempo!”. Muita gente ouve algo que discorda, mas guarda a própria opinião para não se expor ou comprometer. Descobri que isso é até importante, mas que não sei fazer e tenho aversão.
Talvez eu até precisasse aprender a lançar mão de certos personagens no meu dia a dia: ora mais reservada, ora mais política, ora menos passional, talvez; mas quando percebo já arranquei a peruca, os acessórios e a maquiagem, e de cara lavada, sou eu mesma no corre-corre dos dias e das semanas que me engolem.
É claro que o preço na bilheteria sobe por conta disso, mas é o preço que preciso pagar pra viver em paz. Se é bom ou ruim? Às vezes muito bom. Às vezes muito ruim. Mas não sei fazer diferente. Então, sem fantasia, sem truque na voz e sem cortina eu construo a minha história da vida real. Eu mesma, de verdade e sem personagem.
Lari, li e amei sua coluna na Città.
ResponderExcluirObrigado pelo "amado", e pelo crédito.
Já tenho uma pauta para sua próxima, hein!
Beijos, linda!
Zu :-)