Quando me tornei mãe (primeiro da Clara e depois da Helena) adquiri a síndrome da angústia-insegurança-expectativa-materna imediatamente! Tinha receio de que minhas filhas fossem tão diferentes de mim a ponto de eu não saber lidar com isso, e ao mesmo tempo tinha muito medo de que elas viessem com minhas “pequenas imperfeições” e eu me visse pagando os pecados pelo que fiz com minha mãe na adolescência! Rs
Enquanto Clara foi crescendo e me mostrando quem ela era de fato (ou apenas SE revelando ao mundo), fui vendo que a coisa era mesmo complicada pra mim. Aquela princesinha que vi nascer e idealizei jeito, trejeitos e atitudes veio e-xa-ta-men-te o meu oposto. Retraída, tímida, ODEIA se sentir observada. Eu não entendia NADA! Como eu podia ter gerado alguém tão diferente de mim??? Bom, com o tempo, o que poderia ser natural e apenas ser parte da personalidade dela, passou a ser uma grande preocupação pra mim. Procurei psicóloga, pediatra comportamental e psicopedagogas que me dessem uma receita de como eu poderia “mudar o jeito dela”! O que eu ouvia delas? “Mas mudá-la pra que? O que te incomoda tanto?” Eu não sabia responder. Mas o que eu sabia (e tinha certeza) é que EU não sabia lidar com aquilo.
Ouvi quem tinha experiência, aproveitei o máximo que pude de muitos - sábios - conselhos que recebi e passei a RESPEITAR a Clara. Ela era minha filha, e não eu! As minhas expectativas e projeções sobre o que ela seria eram problema meu, não dela. Não foi ela quem sonhou, quem planejou ou idealizou tudo aquilo que povoava minha cabeça, mas eu! E naquele momento eu tinha que aceitar que eu havia simplesmente gerado alguém, não “criado” alguém.
Deixei o tempo passar e mudei pequenas atitudes em relação à essa ansiedade. Passei também a aceitar nossas diferenças e a buscar nossas semelhanças. Não é que as encontrei?! E não só 1, 2 ou 3, mas VÁRIAS!
Hoje, alguns aninhos depois, olho pra trás e vejo quanto tempo perdi comigo mesma travando uma batalha completamente sem razão. Revejo tudo e acho lindíssimo o fato da minha pequena ser tão “grande”, autêntica, dona de si e com personalidade forte e determinada desde sempre. Ela não se dobrou às inúmeras chantagens que fiz - mesmo de forma inconsciente, e se mostrou forte o bastante pra, do alto dos seus 3, 4 aninhos, continuar me enfrentando (ou simplesmente se posicionando) e mantendo seu jeito, seu temperamento e sua forma de ser. Olha só que coisa mais linda?!? E que orgulho!!!
Há poucas horas, recebi aqui em casa a deliciosa visita de uma amiga querida que me ajudou muito nessa fase de observação-aceitação-admiração e ouvi dela uma frase que jorrou inspiração nesse terreno em que cultivo palavras... Leitora desse espaço - que já é delicioso pra mim - ela viu minha pequerruxa calçando meu sapato de saltinho e comentou o fato dela estar tão mocinha. Depois finalizou: “Viu? Os seus sapatinhos – que na verdade são nossos – também cabem nos pés dela”.
Eu entendi perfeitamente o recado, e devo confessar com MUITO orgulho: CABEM MESMO, Bia! Direitinho! ;-)